quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Coronel Gustavo Adolfo Franco Ferreira fala sobre acidente que vitimou Eduardo Campos

 
 O blog  da Tânia Müller entrevistou ao coronel Franco Ferreira, especialista em segurança de voo e conhecido investigador de acidentes aeronáuticos sobre  aeronave Cessna 560XL, prefixo PR-AFA

  Coronel, o que explica o acidente com o governador/candidato Eduardo Campos?


Uma explicação completa só existirá depois que o resultado de todos os exames possíveis  de serem feitos estiverem disponíveis. Por enquanto só há informações confirmadas, indícios  a serem apurados e experiências anteriores a suportar hipóteses, nada mais que hipóteses! ´
 
E que informações, indícios e experiências são estas?




São informações: O avião estava no procedimento de pouso por instrumentos; a visibilidade   horizontal e o “teto” estavam muito reduzidos; a tripulação informou arremetida (quando  não consegue contato visual com a pista) e “rebloqueio” (volta ao radio farol de início); o  procedimento de arremetida demora cerca de 4 minutos e o avião foi filmado na posição vertical,  de nariz para baixo imediatamente antes de colidir com o solo. A colisão com o solo ocorreu  no “polígono aberto” formado pelas ruas Alvorada, Vahia de Abreu, Alexandre Herculano e  a Avenida Washington Luiz; a perda foi total, com danos a patrimônio particular no solo. São indícios: As turbinas provavelmente estavam funcionando; o avião provavelmente  estava na trajetória correta de arremetida; certamente ocorreu perda de controle em voo e,  certamente, por “desorientação espacial”. Na investigação de acidentes aqui em São Paulo, há registro de diversos acidentes aeronáuticos  nos quais a desorientação espacial é fator contribuinte. O acidente do AF 447 tem importante participação deste fator (humano – aspecto fisiológico).
 
 Porque “polígono aberto” e o que é “desorientação espacial”?

 

A Rua Alvorada não “fecha” o quarteirão com a Av. Washington Luiz. É uma rua de acesso  ao interior do grande quarteirão que a envolve. O quarteirão onde colidiu o avião só é “fechado”  pela Rua Goiás. Não há danos entre a Rua Goiás e a Rua Alvorada. Por isto, defini o  “quarteirão” como “aberto” e limitado pela Rua Alvorada. Desorientação espacial é uma condição fisiológica que pode alcançar as pessoas (inclusive  e principalmente, os pilotos) quando, em voo sem visibilidade, ela induz o movimento simultâneo em dois dos canais do labirinto. A sensação da posição e equilíbrio ficam severamente prejudicadas. No caso dos aviadores, advém uma ilusão diferente da posição que o avião está, em realidade trilhando. Se, nesta condição, o aviador optar por seguir sua própria informação  sensorial humana, em detrimento da que lhe mostrada pelos instrumentos, ele mesmo  gera um movimento chamado “atitude anormal”. O Manual de Voo por Instrumentos editado  na Academia da Força Aérea, em 1969 (data em que chegaram os primeiros aviões de instrução  a jato), demonstra estas questões assim:
 

 Na parte descritiva o manual ensina:

Detalhe mais um pouco as “experiências anteriores” a que se referiu. O que  aconteceu nestas ocorrências?

Eu me lembro, assim de imediato, de dois acidentes nos quais a desorientação espacial  pesou de modo decisivo. Um deles foi com o PT-EQE, monomotor que transportava uma família  inteira e que, em condições meteorológicas desfavoráveis, foi instruído a voar por instrumentos.  Nenhum dos dois ocupantes era treinado neste tipo de voo. Entraram em condições  de voo por instrumento e perderam o controle da aeronave 35 segundos depois. Colidiram  com o solo, em atitude anormal. Perda total. O outro foi um jovem aviador em um avião do  aeroclube de São Paulo. Eram três a bordo e transportava sua própria mãe. Voava no litoral, na  região de Ubatuba, do Rio para São Paulo. Um pescador, dias depois, recolheu o painel externo  da uma das asas com sinais evidentes de excesso de carga. Este destroço individual contou a  história toda. O avião da Air France foi comandado – pelo computador – com falsas indicações  dos sensores externos, desde a altitude em que voava (acima de 30000 pés) até o impacto no  oceano, sem que os pilotos pudessem ou soubessem intervir. A consequência é pública.

 "Atitude anormal?"
 

É. Quando o piloto-em-comando entra em desorientação espacial, se não estiver atualizado  no treinamento de voo por instrumentos, ele pode comandar o avião “pelas suas sensações  pessoais”, não pela indicação dos instrumentos. É muito grande a possibilidade de o próprio  piloto introduzir comandos que vão tirar o avião do alinhamento dos três planos em que  vinha voando. Isto está na página 154 do Manual da FAB. Todas as vezes que foi possível medir  o tempo entre a desorientação espacial e a atitude anormal, este sempre se apresentou menor  que 40 segundos.

 Como relaciona estas descrições com o acidente do PR-AFA?






 

Há uma empresa americana – Flight  Safety – especializada em ministrar instrução  de adaptação no mundo aeronáutico civil,  sempre apoiada pela respectiva fábrica. Eles  se servem de manuais de instrução que produzem  para cada modelo. Os manuais contém  a descrição da aeronave e de seus sistemas.  Um destes manuais sobre o Cessna  XLS está circulando no meio aeronáutico.  Dele tirei as seguintes informações:  O avião é dotado do FMS (Flight Management  System) do tipo “Primus 1000”,  produzido pela Honeywell (pag. 16-1); o  sistema é dotado de dois computadores  (primário e reserva) capazes de atuar sobre o  avião, automaticamente, inclusive nas trajetórias  de pouso por pouso  por instrumentos ou de arremetida  (pag. 16-29), de acordo com “databasefornecida pela Jeppesen; a trajetória inteira do procedimento de arremetida demora cerca de 3 a 4 minutos; o piloto automático se desengaja automaticamente e o procedimento de arremetida automática é suspenso, se o piloto assumir o comando da aeronave; a aeronave colidiu com o solo em um ponto exatamente abaixo da trajetória de arremetida exigida pela carta do aeródromo e em atitude nitidamente abaixo da trajetória de arremetida exigida pela carta do aeródromo e em atitude nitidamente anormal (na vertical, para baixo); o ponto do impacto com o solo está a mais de três minutos depois do ponto previsto para arremetida.Neste cenário é licito supor que os tripulantes comandaram a arremetida automática e que, ao sobrevoar a área onde os destroços colidiram tenha ocorrido uma de duas hipóteses:  (1) ou os tripulantes comandaram, intencionalmente ou não, o desligamento do piloto automático;  ou (2) tenha havido uma falha catastrófica simultânea em ambos os computadores  independentes incluindo seus sistemas diversos subsistemas de atuação.  Devido à facilidade de acionamento acidental do interruptor de desligamento do piloto  automático (localizado no manche, junto ao polegar esquerdo de cada tripulante) eu prefiro  esta hipótese.

  E as questões da aquisição e propriedade  e responsabilidade sobre o avião? O que  o senhor tem a dizer?

Nada. Isto é matéria de polícia.
Sobre o gravador na cabine?


O CVR é equipamento previsto para o tipo de aeronave. Pode ser desligado por um corta-
circuito ao fácil alcance do piloto-em-comando. Neste tipo de voo, é comum que seja
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


 

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