Coronel, o que explica o acidente com o governador/candidato Eduardo Campos?
Uma explicação completa só existirá depois que o resultado de todos os exames possíveis de serem feitos estiverem disponíveis. Por enquanto só há informações confirmadas, indícios a serem apurados e experiências anteriores a suportar hipóteses, nada mais que hipóteses! ´
E que informações, indícios e experiências são estas?
E que informações, indícios e experiências são estas?
São informações: O avião estava no procedimento de pouso por instrumentos; a visibilidade horizontal e o “teto” estavam muito reduzidos; a tripulação informou arremetida (quando não consegue contato visual com a pista) e “rebloqueio” (volta ao radio farol de início); o procedimento de arremetida demora cerca de 4 minutos e o avião foi filmado na posição vertical, de nariz para baixo imediatamente antes de colidir com o solo. A colisão com o solo ocorreu no “polígono aberto” formado pelas ruas Alvorada, Vahia de Abreu, Alexandre Herculano e a Avenida Washington Luiz; a perda foi total, com danos a patrimônio particular no solo. São indícios: As turbinas provavelmente estavam funcionando; o avião provavelmente estava na trajetória correta de arremetida; certamente ocorreu perda de controle em voo e, certamente, por “desorientação espacial”. Na investigação de acidentes aqui em São Paulo, há registro de diversos acidentes aeronáuticos nos quais a desorientação espacial é fator contribuinte. O acidente do AF 447 tem importante participação deste fator (humano – aspecto fisiológico).
Porque “polígono aberto” e o que é “desorientação espacial”?
A Rua Alvorada não “fecha” o quarteirão com a Av. Washington Luiz. É uma rua de acesso ao interior do grande quarteirão que a envolve. O quarteirão onde colidiu o avião só é “fechado” pela Rua Goiás. Não há danos entre a Rua Goiás e a Rua Alvorada. Por isto, defini o “quarteirão” como “aberto” e limitado pela Rua Alvorada. Desorientação espacial é uma condição fisiológica que pode alcançar as pessoas (inclusive e principalmente, os pilotos) quando, em voo sem visibilidade, ela induz o movimento simultâneo em dois dos canais do labirinto. A sensação da posição e equilíbrio ficam severamente prejudicadas. No caso dos aviadores, advém uma ilusão diferente da posição que o avião está, em realidade trilhando. Se, nesta condição, o aviador optar por seguir sua própria informação sensorial humana, em detrimento da que lhe mostrada pelos instrumentos, ele mesmo gera um movimento chamado “atitude anormal”. O Manual de Voo por Instrumentos editado na Academia da Força Aérea, em 1969 (data em que chegaram os primeiros aviões de instrução a jato), demonstra estas questões assim:
Eu me lembro, assim de imediato, de dois acidentes nos quais a desorientação espacial pesou de modo decisivo. Um deles foi com o PT-EQE, monomotor que transportava uma família inteira e que, em condições meteorológicas desfavoráveis, foi instruído a voar por instrumentos. Nenhum dos dois ocupantes era treinado neste tipo de voo. Entraram em condições de voo por instrumento e perderam o controle da aeronave 35 segundos depois. Colidiram com o solo, em atitude anormal. Perda total. O outro foi um jovem aviador em um avião do aeroclube de São Paulo. Eram três a bordo e transportava sua própria mãe. Voava no litoral, na região de Ubatuba, do Rio para São Paulo. Um pescador, dias depois, recolheu o painel externo da uma das asas com sinais evidentes de excesso de carga. Este destroço individual contou a história toda. O avião da Air France foi comandado – pelo computador – com falsas indicações dos sensores externos, desde a altitude em que voava (acima de 30000 pés) até o impacto no oceano, sem que os pilotos pudessem ou soubessem intervir. A consequência é pública.
"Atitude anormal?"
É. Quando o piloto-em-comando entra em desorientação espacial, se não estiver atualizado no treinamento de voo por instrumentos, ele pode comandar o avião “pelas suas sensações pessoais”, não pela indicação dos instrumentos. É muito grande a possibilidade de o próprio piloto introduzir comandos que vão tirar o avião do alinhamento dos três planos em que vinha voando. Isto está na página 154 do Manual da FAB. Todas as vezes que foi possível medir o tempo entre a desorientação espacial e a atitude anormal, este sempre se apresentou menor que 40 segundos.
Como relaciona estas descrições com o acidente do PR-AFA?
Há uma empresa americana – Flight Safety – especializada em ministrar instrução de adaptação no mundo aeronáutico civil, sempre apoiada pela respectiva fábrica. Eles se servem de manuais de instrução que produzem para cada modelo. Os manuais contém a descrição da aeronave e de seus sistemas. Um destes manuais sobre o Cessna XLS está circulando no meio aeronáutico. Dele tirei as seguintes informações: O avião é dotado do FMS (Flight Management System) do tipo “Primus 1000”, produzido pela Honeywell (pag. 16-1); o sistema é dotado de dois computadores (primário e reserva) capazes de atuar sobre o avião, automaticamente, inclusive nas trajetórias de pouso por
pouso por instrumentos ou de arremetida (pag. 16-29), de acordo com “database”fornecida pela Jeppesen; a trajetória inteira do procedimento de arremetida demora cerca de 3 a 4 minutos; o piloto automático se desengaja automaticamente e o procedimento de arremetida automática é suspenso, se o piloto assumir o comando da aeronave; a aeronave colidiu com o solo em um ponto exatamente abaixo da trajetória de arremetida exigida pela carta do aeródromo e em atitude nitidamente abaixo da trajetória de arremetida exigida pela carta do aeródromo e em atitude nitidamente anormal (na vertical, para baixo); o ponto do impacto com o solo está a mais de três minutos depois do ponto previsto para arremetida.Neste cenário é licito supor que os tripulantes comandaram a arremetida automática e que, ao sobrevoar a área onde os destroços colidiram tenha ocorrido uma de duas hipóteses: (1) ou os tripulantes comandaram, intencionalmente ou não, o desligamento do piloto automático; ou (2) tenha havido uma falha catastrófica simultânea em ambos os computadores independentes incluindo seus sistemas diversos subsistemas de atuação. Devido à facilidade de acionamento acidental do interruptor de desligamento do piloto automático (localizado no manche, junto ao polegar esquerdo de cada tripulante) eu prefiro esta hipótese.
E as questões da aquisição e propriedade e responsabilidade sobre o avião? O que o senhor tem a dizer?
Nada. Isto é matéria de polícia.
Sobre o gravador na cabine?
O CVR é equipamento previsto para o tipo de aeronave. Pode ser desligado por um corta-
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